segunda-feira, 9 de março de 2009

Novos vampiros

Por Deus! Pensara que iria vomitar ao entrar naquela sala, o cheiro de carne podre dominava o local e invadia suas narinas as fazendo arder.
Olhou para o corpo ainda deitado no chão da sala, os lábios roxos entre abertos e os olhos arregalados. Os peritos ainda examinavam o homem de meia idade estirado no chão com o pescoço claramente deslocado.
Como haviam lhe avisado, estava do mesmo modo como os outros corpos que haviam encontrado nos meses passados.
As idades variavam, e com a exceção de uma mulher, os outros sete corpos, eram de homens. As idades variavam, mas a maior parte era constituída por homens idosos e de meia idade.
Raquel percorreu os olhos na pocilga em volta. O apartamento era um cubículo, com a sala conjugada com a cozinha, pratos com restos de comida apodrecida estavam espalhados pelo lugar. Os moveis eram pouco e precários, o lugar nunca deveria ter visto uma vassoura. Mas em uma prateleira no alto da estante, quase escondido, podia ver o que seria a cabeça de fios dourados de uma boneca. Definitivamente, aquilo não combinava com o homem de meia idade, estirado de bruços no chão, com a cueca arriada até os joelhos.
Saiu da sala não suportando mais o cheiro horripilante. Vira mais do que o suficiente para saber que aquela morte, não fora natural, ou causada por acidente domestico. Aquilo fazia parte da seria de crimes que vinham assolando a cidade e a deixando com um quebra-cabeça sem solução.
Um dos agentes viera apressado em sua direção com uma enorme e pesada caixa de madeira.
“Encontramos isso em um fundo falso no teto do banheiro”
Disse arrombando o cadeado e abrindo a caixa.
Todos tinham uma idéia do que havia ali dentro, mesmo assim mantinha a esperança de nunca ser o que realmente parecia ser.
Engoliu seco calçando uma luva de látex e mexendo cuidadosamente no interior da caixa.
Troféus. Bem guardados.
Deveria descobrir o autor daquela serie de assassinatos bizarros, mas torcia para que nunca encontrassem esta pessoa. Por mais absurdo que pudesse parecer, aqueles pervertidos haviam encontrado o fim que mereciam.
Fechou a caixa e olhou para o agente.
“Mande isto ao laboratório”

Espalhou as fotos no painel de todos os oito crimes imaginando como aquela pessoa poderia cobrir uma área tão grande e como ela estudava suas vitimas e as atacava sem ferir um inocente por engano. O mais intrigante era o imenso cuidado em não deixar pistas. Nenhuma das casas ou apartamentos, havia sido arrombado ou tinha alguma janela ou porta forçada. Não havia digitais, cabelos, pelos ou saliva no local, nem ao menos pegadas ou traços de alguma roupa ou agente químico. E todos sem exceção haviam morrido de ataque cardíaco, apesar de alguns serem mais saudáveis do que o departamento de policia inteiro junto. Era como se houvessem morrido de susto. Seus rostos contorcidos não podiam negar o susto. E as roupas intimas nos joelhos. Sentados, deitados, de joelhos. Todos com a roupa intima abaixada até os joelhos, mas não havia nenhum indicio de abuso sexual. Não havia marcas de luta, de nenhum tipo de violência.
Como entrar na casa de um estuprador de crianças, matá-lo de susto, e sair sem deixar pistas e sem ser notado?
Como?
Raquel se perguntou massageando as têmporas.

**

Observou ele entrar na casa e beijar a esposa no rosto. Ele afrouxou a gravata. Ela preparava o jantar.
Engoliu seco sentindo aquela náusea lhe dominar o corpo, junto com as lembranças, as lembranças que faziam sua mente doer. Respirou devagar, sentindo o coração voltar as batidas normais.
Ela deixara o jantar na mesa e saiu da casa. Saiu da casa como saia todas as terças-feiras em direção ao clube do livro na vizinha a frente. Como saia todas as quinta-feira sua mãe, para ir à reunião semanal de costura.
Ele a esperou sair. Verificou se a porta da frente estava realmente trancada e começou a desabotoar os botões da camisa enquanto chamava o nome doce. Suave, quase como um sussurro, como um carinho. Provocando arrepios iguais aos da lambida de um cão grotesco e faminto. A impotência. Saber o que vira depois sem ao menos ter chance de revidar. Sem ninguém pra ajudar, sem ninguém pra te ouvir, apenas sem ninguém.
A viu se encolher na cama dobrando os joelhos e tapando os ouvidos com as mãos.
...Ângela...
Uma lembrança traiçoeira sussurrou em seu ouvido a fazendo apertar os olhos. Quantas vezes não ficara naquela posição?
Ele bateu na porta insistentemente. As lagrimas escorriam pelo rosto pálido e assustado. As batidas ficaram intensas, insistentes, mais fortes.
Ângela encerrou as lembranças na mente fazendo o coração voltar ao normal.
Agora seria diferente. Ele não bateria mais na porta, nunca mais. Nunca mais.

ARSS.

domingo, 8 de março de 2009

Coisas empoeiradas.

Estes eu escrevi a um tempo atrás, quando se é ferido e não se pode fazer nada contra, quando a vingança esta fora de cogitação. Sim. Sou covarde. Algum problema com isso?
Não há nada pior do que descobrir uma mentira daquela pessoa que você confia.


"Se verdade fosse boa, ninguém contaria mentira"

As pessoas mentem, todos mentem, eu minto, você mente.
É inevitável! Às vezes o tempo todo, ou sem perceber.
Mas o que nos leva a isso?
Algumas pessoas mentem para protegerem você, ou outra pessoa, mentem pelo prazer de te ver sofrer, ou para te fazer rir.
A mentira afasta, coroe, penetra na carne e apodrece, torna-se visível...
É insaciável, suculenta, saborosa... todos já sucumbiram a ela, todos querem dar sua mordida na maçã.
E quanto mais descobrimos a verdade sobre essas mentiras, mais os muros a nossa volta cedem, as pessoas caem, o chão parece desaparecer sob nossos pés.
Mas se mentir fosse a solução, eu mentiria pra você e me sentiria melhor e você mentiria pra mim para que eu me sinta melhor.
Isso dói, quando se descobre, sempre dói. Todo mundo conta uma mentira que dói, mas cedo ou mais tarde, e não me diga que nunca fez isso. Não conte essa mentira.
Então prefiro, nem verdade nem mentira, deixar apenas na lembrança as coisas boas, que mesmo que a mentira tenha sombreado, vou guarda-las e aprender que as pessoas sempre vão mentir, independente do que aconteça, do que façam.
O que muda é o que você faz, o que você se permite tornar depois.
Mas não se engane, eu também vou estar no chão, me erguendo ao seu lado.
Vou bater a poeira da roupa e confiar outra vez, mesmo que pra isso, eu precise contar uma outra mentira.


*

Por que é tão difícil ser sincero?
As pessoas sempre mentem, o engraçado e que nunca sabemos o porque.
Diga-me o que fazer ou o que pensar?
Tem coisas que eu gostaria de entender.
Como eu posso acreditar no que você diz agora?
São tantas mentiras, as vezes acho que devo começar a mentir também.
O mundo é feito delas, mas o que não te destrói te fortalece, não é mesmo?
Mas e quando você já esta calejado? Cansado? Destruído e despedaçado?
O que eu posso dizer...
A coisas que eu gostaria que não me contassem, a coisas que eu não gostaria de descobrir.
Eu sempre preferi a verdade, mas ela não adianta mais, depois de mil mentiras.
As pessoas mentem. Tente encarar os fatos e volte pra realidade.
Tudo não passa de uma grande mentira.


Muitas pessoas me criticaram por causa dessa frase; se verdade fosse boa ninguém contava mentira. A questão é você conseguir entender que quando a frase fala em mentira, não é aquela mentira cabeluda e espantosa, mas sim aquelas pequenas. As pequenas que se tornaram tão comuns que as pessoas nem tem mais conciência de que são mentiras. São há elas que me refiro. A presunção das pessoas de se habituarem a algo tão vergonhoso que torna-se essencial ao seu dia a dia. Pior! Não percebemos.
Ah sim, eu também minto, e nossa, que Deus seja testemunha, minto bastante, muito, e as vezes descaradamente. Não é por diversão, se eu critico é porque não me sinto a vontade em conta-las. E não sinto mesmo. Mas acontece, tento ao máximo não persistir nisso, mas acontece, acontece com todo mundo. O problema real disso tudo é quando se torna um habito. Mas longe de mim ou de você, nos pendurarmos na forca. Tem pessoas que mentem porque tem medo, por prazer, por divertimento, ou as vezes sem saber o porquê.
Mas e se eu não precisasse mentir? E se as pessoas realmente pudessem encarar a realidade? Será que no fundo nós mentimos porque também precisamos delas?
Mas no fim de tudo, se você parar para analisar, se verdade fosse realmente boa, e se as pessoas soubessem lidar com ela, nunca mentiríamos.

**

É no frio da noite que vem as maiores reflexões. No quarto escuro nos deparamos com nossos piores medos. O principal, sempre nós mesmos. Uma hora individual, indiferente se a uma pessoa ao lado ou não, a solidão mostra-nos o que podemos ser, ou até mesmo o que somos. São nesses momentos em que descobrimos o que não queremos que aconteça, se repita ou o que gostaríamos de fazer e não temos coragem.
Momentos em que não temos ninguém nos julgando, analisando ou esperando. O medo cresce, voltamos a ser crianças, sentimos falta do colo da mãe, admitimos nossos erros.
É no frio da noite em que choramos, abafando o soluço contra o travesseiro. Que olhamos pro lado e sentimos um vazio, ou o peito cheio. É quando percebemos a importância da vida, e de como ela pode não valer nada. Que lembramos de um desejo, ou de algo esquecido. Apertamos nossos olhos e pedimos a Deus e agradecemos a ele.
É no frio da noite que percebo o quanto fiz de errado, o que odeio, o que me fere. Onde eu descubro minha fraqueza, minha estupidez, minha falta de coragem. Que reconheço que sou melhor, independente, capaz.
É no frio da noite que me aqueço debaixo das cobertas, que escondo a lágrima quente, que solto a mente e tenho um amor de verdade. É no frio da noite que percebo, que não estarei sozinha.

sábado, 7 de março de 2009

1º Rabisco

Como o nome mesmo diz, Rabisco, acho que se pode perceber que a escrita aqui será variada, não vou me prender a assunto algum, apenas digitar textos sobre qualquer coisa que me despertar a curiosidade.
É apenas um cantinho que criei para treinar a escrita, não muito boa já aviso, e pra ter onde literalmente vaguear sem me preocupar com a opinião alheia.
Quem quiser fazer parte, seja bem vindo e sinta-se a vontade, não deixe de expressar sua opinião.

1º Texto.


Novos Vampiros


Senti o cheiro de sexo vindo dentre suas coxas assim que atravessei a soleira da porta da sala. Senti-me tomado por uma raiva incontrolável. Aquele cheiro era de caso antigo, mas só agora eu percebia. Estava adoentado por aquela semana, minha cabeça latejava e meu estômago se embrulhava toda vez que eu ingeria algo, mesmo estando com fome. Odiava médicos, mas já considerava a possibilidade de marcar uma consulta. Sentei no sofá observando seu andar dentro da camisola comprida de algodão. Falava algo sobre nossos vizinhos, fofoca de alguma briga entre as velhas no fim da rua, enquanto mexia nas panelas no fogão. Afrouxei a gravata sentido aquela onda de suor gelado molhar meu corpo. Estava com fome. Desabotoei a camisa e abracei Cristina por trás apalpando seus seios. Ela arfou me afastando. Mas não desta vez. Ou quantas vezes ela deixou de transar comigo após passar o dia na cama trepando com outro. Podia sentir o cheiro dele vindo do quarto. Novamente senti o bolo do estômago se revirar. Minhas pupilas dilataram ardendo com a luz da cozinha. Agarrei a puta pelos cabelos e a trouxe de volta. Seu cheiro invadiu minhas narinas, me provocando sensações estranhas. Sentia um desejo misturado com ódio e um pouco de sadismo. Ela gritou. Mas o que seria uma trepada a mais ou a menos no dia? Eu era casado com ela, sustentava todos os vícios daquela puta, o mínimo que poderia fazer era abrir as pernas quando eu quisesse. Beijei o pescoço a segurando contra a pia. Não adiantava se debater. Sentia-me com uma força que não me pertencia. Algo novo se operava em mim como um milagre. Era como sentir a cabeça cheia como um balão, e ser invadidos por todas as sensações ao mesmo tempo. O gosto da pele levemente salgada pelo suor, misturada ao perfume doce que usava. Percorri os dentes até um dos seios o sugando com força. Meus dedos pareciam mapear cada poro daquele corpo. Ela era jovem e doce. Fora tudo um pouco rápido demais para mim. A segurava forte pela cintura enquanto metia dentro dela em ritmo frenético. As sensações do orgasmo me atingiram ao mesmo tempo que sentia o gosto do sangue inundar minha boca. Uma sensação deliciosa. Uma sensação de sede saciada apôs uma longa corrida por um deserto. Aquele liquido quente com um gosto agridoce descia pela minha garganta aquecendo meu corpo. Larguei a massa inerte e sem vida sobre o piso frio da cozinha. Eu olhava o rosto contorcido entre a dor e o prazer, congelado no tempo. Desliguei o fogo das panelas e sentei em uma cadeira enquanto tamborilava os dedos sobre a mesa. Sentia-me incrivelmente calmo, ainda não havia decidido o que fazer com o corpo de Cristina, mas isso não me soava como um grande problema. Sentia-me lúcido, tranquilo, com uma grande paz de espírito e não estava mais com fome.
ARSS.
PS: Claro, nem todos os textos aqui apostados serão meus. Obviamente que tenho a permissão necessária para isso.